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Sexualidade após AVC

A disfunção sexual (isto é, uma alteração ou perturbação) após um acidente vascular cerebral (AVC), é pouco falada, apesar de atingir cerca de 50% das pessoas que sofreram AVC.

 

Nos homens, pode observar-se uma redução da atividade sexual, uma redução do desejo, disfunção erétil e dificuldades na ejaculação, enquanto que nas mulheres, ocorre uma redução do desejo/excitação e dificuldades em obter orgasmo.

 

De forma menos comum, pode também pode ocorrer a hipersexualidade (um desejo sexual exagerado, maior do que antes).

 

A disfunção sexual após um AVC pode ocorrer mesmo perante a ausência de sequelas físicas ou sequelas ligeiras.

 

A sexualidade contribui para a qualidade de vida nas pessoas a recuperar de um AVC e seus parceiros, podendo-se dizer que a sexualidade após um AVC é silenciada e às vezes alterada, mas não esquecida.

Como causas destacam-se as seguintes:

  • efeitos secundários da medicação (por ex. com a utilização de beta-bloqueadores, bloqueadores dos canais cálcio, diuréticos, antidepressivos, antipsicóticos);

  • outras doenças ou fatores de risco cérebro-cardiovascular (hipertensão, diabetes, dislipidemia, consumos tabágicos e índice de massa corporal elevado);

  • limitações (quer físicas, como sensitivas e motoras, espasticidade, disfunção autonómica, incontinência urinária, quer cognitivas, ou dificuldades na comunicação, fadiga crónica, etc.);

  • fatores psicológicos (depressão, receio de novo AVC, receio de rejeição, baixa auto-estima e disfunção sexual pré-existente);

  • fatores sociais (pela mudança de papéis).

Em termos psicossociais, podem surgir dificuldades na relação com familiares e sensação de estranheza ou perda de compreensão mútua, por ex. com impacto na comunicação de necessidades sexuais ao parceiro. Assiste-se, por vezes, ao receio de causar sofrimento ou medo de rejeição, crença que o sobrevivente não está capaz ou interessado em ter intimidade, dificuldades de comunicação em pessoas com afasia ou outras limitações. O silêncio perturba a relação e cria sentimentos de solidão e isolamento.

 

Os sobreviventes geralmente desejam receber informação acerca do funcionamento sexual e sobre a retoma segura da atividade sexual após o AVC, bem como necessitam de aconselhamento sexual se surgir a disfunção sexual.

Os profissionais de saúde podem contribuir para esse silêncio se não levantarem esta questão nas consultas ou outros momentos de contacto com os sobreviventes, por receio (mesmo de origem cultural) em abordar a sexualidade em sobreviventes de AVC com alguma incapacidade.

 

É recomendado que as pessoas com AVC e os seus parceiros recebam informação e aconselhamento acerca da sua sexualidade.

A sexualidade depois do AVC não tem sensações exclusivamente negativas, como as alterações da sensibilidade, dor, fadiga, alterações da imagem corporal ou sensação de dependência do parceiro. Existem experiências positivas como, por exemplo, as sensações de maior intimidade com o parceiro, podendo levar a  uma postura mais tolerante e a um ritmo mais lento.

 

Dicas para o retomar da sexualidade após o AVC:

1. A atividade sexual implica um esforço semelhante a subir dois lanços de escadas a um ritmo acelerado ou caminhar a 6km/h. Se tiver insuficiência cardíaca, experimente caminhar 6 minutos para averiguar a sua capacidade física. Cerca de dois terços das pessoas conseguem retomar após algumas semanas (geralmente até ao 6º mês).

2. Aguardar 2hrs depois da refeição antes da atividade sexual, escolhendo de preferência um quarto fresco, com um ambiente calmo e familiar.

3. Rotinas antes da intimidade: evitar o álcool ou líquidos; ter um suporte físico para melhor conforto (como na imagem 1).

4. Progressão gradual: começar por dar as mãos, tocar, inicialmente com carícias não genitais (evitando as mamas, pénis ou vulva/vagina), sussurrar, mordiscar, e só depois beijar ou utilizar a masturbação, sexo oral e/ou com penetração.

5. Sugestões específicas:

  • Expandir o repertório sexual, não tendo necessariamente que ter o foco na penetração, mas nas sensações.

  • Experimentar novas posições para ultrapassar sequelas físicas motoras e sensitivas, e nem todas com penetração.

  • Pode ser necessária a utilização de medicamentos (ex. medicamentos para melhorar a ereção se estiver presente a disfunção erétil, e/ou um toque firme - de houver  alterações da sensibilidade).

  • Para utilizar menos energia, pode usar masturbação pelo próprio ou pelo parceiro, e recordar que existe maior dispêndio de energia da pessoa em cima, na posição missionária (como nas imagens 2a e 2b).

  • Deve adotar uma posição confortável e habitual. Evitar sexo anal, se tiver ritmo cardíaco instável.

  • Se houver afasia limitativa, pode usar gestos e toque (comunicação não verbal).

6. Não ter receio de novo AVC durante a atividade sexual – a hipótese de acontecer durante a relação sexual é muito baixa, estando o seu risco calculado em cerca de 0,1%.

Texto da autoria do Dr. Pedro Teixeira, Psiquiatra e Sexólogo.

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